domingo, 1 de abril de 2012

Sobremesa

Na minha rotina atual tenho feito, à contra gosto, diversas coisas sozinha. Um desperdício: aprendemos muito uns com os outros!
Na última semana fui almoçar em um novo restaurante e adorei o lugar. Sentia vontade de dizer as pessoas a minha volta “Que delícia! Prova! Mas tem que ser de olhos fechados...” Será que aquelas pessoas percebem a grata experiência de saborear um prato, garfo a garfo? Lembrei de uma das minhas colegas, ao me observar almoçando, dizendo admirada: “É muito engraçado: você come com prazer... Parece que sua comida é sempre mais gostosa que a minha!” Mas existe sentido mais prazeroso e completo que o paladar? Nem tudo que tocamos, ouvimos, enxergamos ou cheiramos passa a fazer parte de nós. O paladar é guloso: toda substância é absorvida, transformada ou descartada, mas nunca ignorada! Os outros quatro sentidos são dependentes, já o paladar tem vida própria. Deve vir daí a necessidade dos apaixonados de se saborearem! O entrelaçar de dedos nunca será tão doce quanto um beijo nos olhos, nem tão temperado quanto uma mordida na orelha...
A propósito, este sentido alquimista também produz frutos: a palavra. Algo tão meu se torna “nosso” quando a porta deste laboratório se abre. Nosso porque, mesmo não querendo, as palavras balançam nossos cílios auditivos. Farão parte de você ainda que inconscientemente. Madre Tereza da Calcutá dizia que “As palavras que não dão luz aumentam a escuridão.” Pensando nisso passei a me atentar aos frutos que eu produzia com minha boca “porque a boca fala daquilo que o coração está cheio.” Luc 6, 45. E “não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons.”  Luc 6, 43.
Palavras amáveis são como manga madura: tão doce que lambuza! Creio que Willian Shakespeare também sabia disso:  Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras.”  Já aquelas secas de sentimento e verdade, imaturas e duras, são como manga verde: melhor seria tê-las deixado no pé porque uma vez arrancada, não se devolve. E ainda há quem goste! Pode?!
Não posso impedir que os outros me ofereçam deste fruto, mas decidi só absorvê-lo com uma generosa colherada de leite condensado.

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