A inquietude de minha mãe é de se admirar
Tem sempre uma história nova pra contar.
Por uma samambaia, trocou o terno de casamento do meu pai.
Ele chocado, até hoje apaixonado, sempre reclama: “Ela vai lá e faz!”
Ela desmancha a formalidade.
Não enxerga maldade.
E quando está com vontade,
Faz drama
Igual novela mexicana.
Como no dia que ela quer pizza
E todo mundo em casa quer comida. Dela claro!
Ela orgulhosa fazendo panqueca,
Testa a massa na panela
E confessa: “Vou fazendo. Não sigo receita. Ás vezes acerto de
primeira...”
E por não se preocupar em tentar,
Mal sabe ela
Que já está certa.
Ela, de quem acho graça quando fala errado,
Me apresentou um novo vocabulário.
E mesmo sem querer conselho,
Ela passa a mão no meu cabelo
E me desafia:
“A gente se envolve, né filha?!”
É mãe? E como desfaz?
“É só se DESenvolver...”
E por não saber, cumpri sua missão de me fazer crescer.
Minha mãe me faz chá quando estou triste.
Mesmo que eu diga: Não quero! Nem insiste.
Logo vem ela,
Com chá novinho em uma xícara velha,
Com pouco açúcar pra manter o sabor
E olhinho caído cheio de amor.
Ela não desiste. Eu não resisto.
E quando me lamento
Ela balança o punho fechado
E repete um mandamento:
“Você tem que dizer ‘EU.CON.SI.GO’!”
E de tão sem ritmo
Me rouba um sorriso.
Desde que nasci
Bagunço a vida dela.
E em troca ela me diz:
“Vem cá que eu fiz bolinho de chuva com canela.”
E a tarde vai se embora.
E a tristeza.
E o medo.
E o regime.
E por fim, tudo se renova.
É mãe, aprendi com a senhora:
A vida acontece agora.