quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Sobre o fim das coisas

Durante uma de minhas caminhadas vi um poodle fugir por entre as pernas da dona ao abrir o portão para receber uma vizinha. Ele correu como se nunca tivesse  sentido a luz do sol, o perfume da grama, o vento da rua... feliz, muito feliz. A sra dona do cão corria logo atrás aos gritos de desespero: “Vooooolta Luck!” Observei a cena por uns instantes e não soube de quem tinha mais pena: se era do cão pela ilusão momentânea de “liberdade” ou da dona pela falsa ideia de “propriedade”. Nada nos pertence!
Comprei há alguns anos uma bolsa que me apaixonei a primeira vista. Hoje, voltando para casa, notei o desgaste de suas alças, as manchas de seu interior e me indignei: tinha que durar pra sempre! Não quero outra! Quero esta que me cativou! Pensei nas mudanças que vivemos a contra gosto porque as coisas acabam. Tudo, impreterivelmente. Porém se engana quem pensa que tudo é descartável. Algumas lembranças são tão presentes que muitas vezes se recorrem a especialistas do “descarrego” para liberar espaço para o novo. E ainda assim, nem sempre as novas peças são do mesmo formato do vazio que tentam preencher.
Voltando ao cão fugitivo. Me perguntei o que faria se percebesse algo que tanto me cativou escapar-me por entre os dedos... Me peguei correndo pela rua a encorpar o coro: ”VOLTA LUCK! VOLTA!” Ele voltou correndo e pulou no colo daquela senhora que já estava aos prantos. Sabe ás vezes, o mesmo amor que nos move é também o que nos faz querer ficar...
Amante de Saint Exupery, por muitos anos acreditei na frase da carente raposa ao Pequeno Príncipe: “Tú te tornas eternamente responsável por aquele que cativas.” Bobagem! Aliás, maldade! Porque o amor é gratuito. Daí sua beleza e sua crueldade.

Por fim, com o coração queimando, abri o meu portão.

“O amor jamais passará.”  I Cor 13-8

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