Há algumas semanas atrás ouvi uma história fantástica de um
professor tão fantástico quanto. Aliás, este me ensinou conceitos de Logística.
Conceito que para mim pode ser resumido em uma busca mecânica e incansável de
neutralizar temporariamente o caos. Até porque elimina-lo não é nada inteligênte: inibir o caos representa estagnação. Crescer requer riscos!
Mas não era sobre Logística que iria falar-lhes, nem sobre
meu mestre que inspirou este texto, mas sim, sua partilha generosa sobre lembranças
de sua fase no colégio militar.
Inicialmente destacou-nos o convencional: precisão e disciplina
aplicadas desde a formação em ciências exatas até o corte de cabelo. Lá, onde o
erro é fatal, assim como na Logística, passou grande parte de sua juventude. Mas,
no emaranhado de boas recordações, nos contou um dos episódios em que saíra do
alojamento pulando o muro com outros amigos. As 22h00 as luzes se apagavam. Lá fora
só muros e sentinelas devidamente armados. Fronteiras que muitas vezes não eram
suficientes para contê-los. Naquela noite planejaram uma farra na cidade mais
próxima. Como de costume, aguardaram o apagar das luzes, enrolaram travesseiros
nas cobertas para simularem que estavam em um tranquilo sono, passaram pelo
pátio assoviando para alertar ao sentinelas que estavam saindo. "- Mas e se eles não ouvissem os assovios?"
Rindo me respondeu: "- Nos mandariam bala!"
Passaram a noite fora e voltaram antes de amanhecer.
Assoviaram novamente e, depois de um tempo ouviram a resposta do outro lado do
muro garantindo a segurança deles: outro assovio. O primeiro do grupo começou
a subir e ouviu do outro lado: "- Ei! Tá limpo!
Me dá sua mão que eu te puxo!" Fez
isso e voltou com êxito. Um a um atendeu ao chamado da voz que vinha do outro lado. Por fim, chegou a vez do meu professor que, sem saber,
também daria a mão a um 'algoz'. Assim que chegou do outro lado ouviu uma voz grave e
rouca lhe questionando “- Nome?” Branco, mais do que já é, olhou para a direção
da voz e viu um homem alto, com bigode volumoso e ligeiramente enrolado nas
pontas: "- Capitão!" O oficial tinha um
sorriso irônico, até então nunca visto, e após anotar o nome de cada um que
fora resgatado no muro dizia: "- Tá preso!"
Todos eles passaram o resto da noite na prisão do quartel e riram até de manhã com o ocorrido. Aliás, riem há 50 anos... Algo que ‘fugiu’ do
processo planejado, o que culturalmente subentende-se como erro, resultou em um
fragmento de felicidade Kairós (o que
não se mede no tempo). E isso só acontece com quem percebe a graça da vida: crescer, amar, viver requer riscos! Se
tudo tivesse ‘dado certo’, eles não teriam experimentado a liberdade que o humor dá:
deixar a culpa e o rancor do lado de lá do muro!
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